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ARTIGOS

25
MAI 2020

MEU FIILHO NÃO QUER COMER, E AGORA?

           No primeiro ano de vida, o apetite dos bebês é significativo, porque as necessidades nutricionais são muito altas, para que as metas esperadas de desenvolvimento sejam atingidas, diferente dos anos seguintes, quando as necessidades anuais são menores, devido à diminuição da velocidade de ganho de peso e estatura, o que condiciona a diminuição do apetite.

         A queixa de que o filho não come ou come mal é mais frequente quando ele está entre  2 e 3 anos de idade. Com 5 meses, o bebê dobra o peso do nascimento e com 11 para 12 meses, triplica. Para dar conta desse crescimento veloz, a criança tem muita fome, aceitando geralmente tudo que lhe é oferecido, alimentando-se muito bem. Do primeiro para o segundo ano de vida, o crescimento ainda é rápido. Ou seja, ainda come bastante, mas como não dobra mais de tamanho, a fome começa a se adaptar à velocidade do desenvolvimento infantil. Entre o segundo e terceiro ano de vida – até por volta do 10º aniversário – a criança cresce, mas em um ritmo lento. Logo, não tem a mesma fome e não vai comer mais “aquela pratada”, afirma o pediatra Fábio Ancona Lopes, professor titular de nutrologia da UNIFESP.

         É importante entender este evento fisiológico da diminuição do apetite, pois se isso não acontecer, a tendência da família é insistir, forçar, agradar com guloseimas ou com outras opções que a criança demonstre preferir, como por exemplo, a mamadeira de leite que, naturalmente, traz saciedade.  Se ela vem crescendo dentro da curva esperada do desenvolvimento, o melhor é se tranquilizar, considerando que a criança esteja bem de saúde.

        Esta mudança de apetite, muitas vezes, gera ansiedade e preocupação, e as brigas à mesa podem começar a acontecer, com intensidade, por conta do estresse, dando assim mais poder aos pequenos. O segredo é não entrar numa queda de braço, procurando manter neutralidade, entendendo, também, que nesta fase do desenvolvimento acontece a passagem da dependência infantil absoluta para aquisição de certo grau de independência – uma etapa da construção da própria subjetividade, identificada por comportamentos desafiadores, intolerâncias às interferências e tentativas de impor suas vontades.  Diante deste contexto, por volta dessa faixa etária, seu filho poderá apresentar “problemas” quanto à alimentação. Afinal, comer é uma escolha que as crianças têm o poder de fazer e não demoram muito para aproveitar uma oportunidade para um jogo de poder sobre seus pais, em busca da autonomia desejada, através de suas escolhas e imposições.  Muitas resistem comer certos alimentos – ou insistem em comer apenas um ou dois favoritos. E quanto mais você luta com seu filho sobre suas preferências alimentares, mais ele estará determinado a desafiar você. Então, nestas situações, não seria indicado fazer uso de uma disciplina rígida, o que poderá gerar muita batalha, irritação e desamor, mas sim transmitir tranquilidade, não valorizando sua atitude “rebelde”, não insistindo para que se alimente, neste momento. O grande desafio seria usar da criatividade para que venham a querer a mesma coisa que os pais, oferecendo uma variedade de alimentos saudáveis, permitindo às crianças, que escolham dentro do que é oferecido.

          O apetite da criança de 2 a 3 anos é irregular e pode variar de um dia para o outro. Assim, em um dia ela pode aceitar determinado alimento e no outro recusá-lo, atitude que pode originar ansiedade na família e nas pessoas responsáveis pelo seu cuidado. Da mesma forma o leque de emoções é marcante, desde o puro prazer até a raiva pela frustração, expressa através de birras, choro, agressividade, que aparecem como forma de autoafirmação da sua própria personalidade.

         Em vez de se culpar, mantenha a calma e entenda que a inapetência faz parte do desenvolvimento infantil, evite chantagens, trocas de alimentos na hora da refeição ou prêmios, como brinquedos.

         Algumas dicas para auxiliar às famílias:

  • Limites adequados no momento da refeição – os pais decidem onde e o que oferecer aos filhos, na hora da refeição, enquanto o bebê ou a criança pode escolher se quer e o que comer;

 

  • Mantenha uma atitude neutra, afinal o horário da refeição deve ser um momento natural, tranquilo e de prazer, não deixando transparecer preocupação;

 

  • Oferecer o alimento à criança no mesmo horário da refeição da família é um hábito saudável, que oportuniza o encontro, trocas e conversas;

 

  • Não obrigar a criança a comer e não insistir ao percebê-la satisfeita;

 

  • As refeições devem durar, em média, 30 a 35 minutos;

 

  • Se houver rejeição frequente de certos alimentos, não desista de oferecê-los, pois a criança está desenvolvendo seu paladar e hábito alimentar, então uma sugestão seria apresentá-los de forma diferente;

 

  • Se a criança recusar a refeição procure não substituí-la por outras opções, dizendo com tranquilidade que quando tiver fome, será servida novamente;

 

  • Tolere a bagunça que a criança pequena costuma fazer, dando-lhe autonomia para utilizar o talher e exercitar suas habilidades motoras. Às vezes, a resistência pode estar no simples fato dela própria não ter a oportunidade de se alimentar;

 

  • No caso da criança não querer comer nada, evite aumentar o número de mamadeiras diárias, pois este pode ser um fator que interferira no apetite. Crie uma rotina de alimentação, com horários definidos para cada refeição, pois isso reduz o risco de a criança querer comer lanches e doces durante o dia para “enganar” o estômago; 

 

  • Se possível, evite distração, com as “telinhas” e outros eletrônicos, mas se esta é a única maneira da criança se alimentar, no momento, e de evitar ansiedade e estresse entre os familiares, podem ser feitas combinações de uso, dentro de limites, sem que se estabeleça este hábito;

 

  • Não ofereça alimentos, direto do pacote, especialmente industrializados, como bolachas e salgadinhos. Divida os produtos em potes separados para limitar a quantidade que a criança irá comer, evitando assim, exageros;

 

  • Deixe frutas prontas para consumo à disposição da criança nos momentos em que a fome bater entre as refeições. Lembre-se de lavar bem os alimentos antes do consumo;

 

  • Ofereça água, muita água! Isso vale para os adultos também. Tentem tomar água com frequência e, lembrem de oferecer, também, às crianças.

        Como tudo na vida, existe o ideal e o possível, então, a proposta desta reflexão é de auxiliar as famílias, no sentido de facilitar o entendimento da faixa etária e promover ações que venham a favorecer a relação entre pais e filhos, no que se refere ao processo de alimentação das crianças. É importante considerar que estamos vivendo sob circunstâncias estressantes, e em muitos momentos não conseguimos dar conta de todas as nossas responsabilidades, apesar de que estamos fazendo de tudo para que os cuidados com os filhos, trabalho, casa, entre outros, aconteçam de forma satisfatória. Entretanto se algo não sair como planejamos, não sejamos tão exigentes conosco, pois somar culpas desnecessárias pode interferir negativamente nas nossas relações.  Tenham sempre em mente que o mais importante é um convívio familiar pacífico e harmônico e a certeza de que são “os melhores” para os filhos de vocês, que os amam incondicionalmente.

Silvia Saenger

Psicóloga Ser Criança 

 

 

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